terça-feira, 21 de maio de 2013

O Efeito Angelina

O Efeito Angelina: Foto da Capa da Revista Time
 
A atriz Angelina Jolie foi submetida à uma mastectomia radical bilateral preventiva recentemente afim de se evitar um câncer. Fala-se agora do Efeito Angelina, que seria muito mais do que discutir se a decisão da atriz teria sido correta ou precipitada e envolve temas complexos como tecnologia, genética, ciência, medicina, crenças, filosofia, comportamento, ética e psicologia.
Hoje resolvi falar sobre seios. Seios que são fonte de nutrição para o desenvolvimento das crianças de nossa espécie. Seios tão belos e tão admirados pelos homens. Mas queria falar especificamente dos famosos seios que foram cortados recentemente da atriz Angelina Jolie. Essa atitude faz refletir bastante como a medicina está em constante mudança. Crenças novas são adotadas em função de recentes descobertas, mas para que servem ao certo estas descobertas? Será que estamos acertando nessas decisões? Será mesmo que desenvolveria o tal câncer ou será que acreditou muito em um gene? Talvez só o “efeito borboleta” nos responderia essas questões. Da mesma forma e na mesma velocidade, métodos diagnósticos e terapêuticos são deixados para trás, simplesmente passam a não prestar mais, passam a não valer mais a pena. Paralelo à evolução e a constante transformação da verdade na medicina, existe uma série de interesses exercendo significativa influência, principalmente de origem financeira e política.
 
Algumas práticas semelhantes a essa já eram adotadas antes como, por exemplo, a retirada do cólon (intestino grosso) em uma doença familiar que causa pólipos e que posteriormente evoluem para câncer. Mas convenhamos que apesar de os órgãos terem igual importância, o cólon é um órgão interno e não mexe com uma questão essencial e que faz parte das mulheres, a estética.
 
Muito me assusta determinados modismos na medicina, que muitas vezes chegam como verdade absoluta e nova promessa de revolução, mas tão rápido nos abandonam e passam a ser desacreditados, como algo que não vingou. Nunca me esqueço de uma palestra que assisti do Professor Dr. Samii em um congresso de neurocirurgia que ao ser solicitado a mandar uma mensagem aos jovens cirurgiões disse exatamente isso, que se preocupava com os modismos e que os mais novos deveriam ter cautela com as novidades.
 
A medicina hoje está realmente muito avançada e há alguns anos entramos no campo da genética. Viemos descobrindo o papel de alguns genes em determinadas doenças, traçando assim estratégias para o tratamento e, principalmente, para a prevenção de moléstias, principalmente o câncer. O gene BRCA1 já foi descoberto há alguns anos, não é tão novidade assim para os cientistas, mas ainda vem sendo estudada e lapidada como toda descoberta pelos médicos na prática. Uma difícil, porém eficiente tarefa da ciência é tentar encontrar um correto link entre as descobertas feitas em pesquisas no laboratório e a prática clínica, a vivência no dia a dia dos médicos. Fiz um levantamento no PubMed e vi muitos artigos ainda discutindo o correto uso deste exame que detecta esse determinado gene, o BRCA1. Ele é sim relacionado ao alto risco de desenvolvimento do câncer, mas como usar essa informação na prática clínica e qual seria a conduta correta? Mastectomia radical preventiva em todas as mulheres BRCA1 positivas? O que eu quero dizer é: Será mesmo 100% a relação entre o câncer e este gene? A medicina é muito efêmera para tamanha confiança em uma conduta ainda não unânime. Às vezes me assusta ver que chegamos a tal nível.
 
Esse tipo de atitude é retroalimentada pelo medo dessa doença. Quando informada que possui um gene que aumenta o risco de ter câncer, o cérebro logo associa essa palavra à morte, e assim começa um ciclo vicioso formado por medo e ansiedade que, por sua vez, torna a vida insuportável de maneira que ela prefere retirar logo os seios e voltar a viver. Junto com o par de seios sairá também o medo, a angústia e a ansiedade, e voltará a sensação de liberdade.
 
                Enfim só nos resta aguardar e esperar para ver se essa técnica profilática vai realmente vingar, amadurecer e se firmar como método, ou se daqui a algum tempo será abandonada. Espero que futuramente possa haver uma técnica diagnóstica que detecte o tumor no mesmo dia em que ele surgir, uma coisa ainda a nível celular. Assim seria possível detectar o momento exato do surgimento do clone celular com a mutação, nos dizendo o tempo exato para a realização da cirurgia. Deixaria assim a mulher viver mais tempo com seus seios e não precisaria passar pela situação de retirá-los logo, mesmo que ainda saudável, para ser livre.
 
Bernardo de Andrada


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